Os palcos deram lugar às calçadas,
as baquetas se transformaram em cabos de vassoura improvisados e a
bateria agora é imaginária. As ruas de Icaraí, bairro da Zona Sul de Niterói,
na Região Metropolitana do Rio, há alguns anos contam com a presença de
Wigberto. Conhecido nos anos 1980 pelo talento e “swing nas mãos”,
tocando com músicos que fazem sucesso até hoje, o músico — agora
irreconhecível e com problemas psiquiátricos – é suspeito de agredir
pessoas na cidade.
Músicos da região afirmam que Wigberto participou de diversos shows com
referências da música brasileira como Celso Blues Boy e Tim Maia. Ele
também, segundo amigos, fez uma participação no filme "Bete Balanço",
escrito e dirigido por Lael Rodrigues e estrelado por Débora Bloch em
1984.
Amigos e conhecidos lamentam a situação atual do baterista. O também
músico Zélly Mansur, de 53 anos, mora em Angola atualmente, mas viveu em
Niterói por 35 anos. Durante muito tempo foi amigo de Wigberto e
fizeram shows juntos na noite da cidade. Ele afirmou ao G1 que, após algumas brigas familiares, o companheiro chegou a se hospedar na sua casa por volta de quatro meses.
“Eu prometi duas semanas, mas ele acabou ficando quatro meses, tive até
problemas com meus pais, que começaram a reclamar. Depois de um tempo
que ele saiu lá de casa, ele foi para a rua e a cabeça dele foi
desparafusando devagar. Então ele foi perdendo a sequência lógica de
raciocínio e começava a se perder nos assuntos. Ele realmente tinha
muitos problemas pessoais e depois foi para a rua. Tornou uma bola de
neve gigante” afirmou Mansur.
Na segunda-feira (6), uma jovem de 16 anos foi empurrada da bicicleta
enquanto se preparava para ir à escola, por volta das 7h. Wigberto é
suspeito e teria sido flagrado num vídeo de circuito de segurança. A mãe
da vítima, Karla Ribeiro, afirmou que ele teria dado um soco na
adolescente e corrido em seguida, sem tentar roubar nada. “Ele está
descontrolado, a princípio ele não tinha atacado ninguém até então. Ele
deu o soco e fugiu. Ele não pegou nada da minha filha, falaram que ele
era baterista de uma banda e começou a morar na rua. É um perigo ter ele
desse jeito na rua”, afirmou.
A Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento para
apurar as circunstâncias do fato. A vítima foi ouvida e agentes realizam
diligências em busca de informações que ajudem a identificar a autoria.
Complicações mentais
O G1 percorreu padarias onde ele costuma pedir café da
manhã, pontos que ele costuma frequentar e conheceu a psicóloga
Angélica Blanchart. Ela acompanhou o caso de Wigberto há alguns anos e
disse que o ex-paciente nunca foi agressivo, mas tem algumas
complicações mentais.
“Eu tenho medo que as pessoas entendam errado, porque se acharem ele
vão prender, levar ele para a cadeia e podem até bater nele. A polícia
tinha que pegar ele e levar para algum lugar onde ele possa se tratar.
Ele não é bandido ou criminoso, ele é doente e precisa de ajuda. Quem
achar ele, tem que chamar o Samu e pedir para levar para algum lugar
onde podem tratar dele”, afirmou Angélica.
caneta para escrever música (Foto: Matheus
Rodrigues/ G1)
Wigberto foi encontrado na quarta-feira (8) na Rua Moreira César em
frente a um prédio. Muitos moradores da região já o conheciam e paravam
para perguntar como ele estava, já que apresentava alguns machucados no
rosto. Após alguns minutos, a terapeuta ocupacional Lucimara Pinheiro,
de 53 anos, foi surpreendida ao tentar oferecer ajuda.
“Eu ofereci dinheiro para ele comer alguma coisa, mas ele me pediu um
caderno e uma caneta. Eu não entendi, e ele disse que ia escrever uma
música para mim. Eu não sabia que ele é músico. Também me pediu uma
Coca-Cola, mas pediu para eu comprar porque não deixam ele entrar na
padaria”, afirmou a moradora de Icaraí.
Último tratamento
Luiz Adriano Godoy, de 42 anos, é psicólogo do Centro de Atendimento
Psicossocial (Caps) Herbert de Souza – instituição que faz parte da
saúde pública de Niterói – e foi a última pessoa que acompanhou o
tratamento do músico. Ele afirmou que “ele recebia um tratamento, mas
não ficava internado. Quando ele foi para a rua nunca mais voltou. Ele
está sumido [do Caps], mas precisa sair da rua”.
O G1 questionou a Prefeitura para saber se algo seria
feito. A secretaria de Saúde informou que estava programando uma ação
conjunta com uma equipe da Saúde Mental e do Consultório de Rua para
abordagem e assistência. A Secretaria de Assistência Social e Direitos
Humanos informou que também enviará equipe para conversar com ele. O G1 esperou as equipes chegaram, mas no momento da abordagem Wigberto conseguiu fugir dos agentes de saúde.
















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